segunda-feira, 31 de agosto de 2015

ENTENDIMENTOS À ESQUERDA



Nestas eleições, aquilo que parece ser, apesar de tudo, mais certo dentro da incerteza da situação é que não haverá maiorias absolutas.

Esse objetivo permanente e máximo do centrão, nos últimos tempos acolitado pelo ex. partido do táxi, que foi entretanto rebatizado por arco da governação, já não convence ninguém, nem ninguém, incluindo o seu mais recente defensor, Cavaco Silva, acredita que venha a ser alcançado.

Neste provável quadro político e com a direita esgotada na capacidade de união de votos e consequentemente, mandatos – talvez pudesse acrescentar os provavelmente escassos oriundos do CM, perdão, de Marinho Pinto –, somente a esquerda parlamentar, poderá, em tese, alcançar uma situação de maioria pós eleitoral.

Mas como as sondagens indiciam, e elas valem o que valem mas sempre valem alguma coisa, somente os votos e mandatos do PS e PS juntos poderão eventualmente constituir essa maioria politica. Acrescente-se ou não os mandatos do BE.

Ora, sendo muitas e profundas, à partida, as divergências programáticas entre esses partidos e tendo que haver cedências de parte a parte, é minha opinião que duas circunstâncias irão condicionar essa já de si difícil possibilidade.

Em primeiro lugar o interesse de cada um dos partidos em que esse entendimento global se faça e que permita uma solução governativa estável, ou seja para uma legislatura.

Em segundo lugar a correlação de forças que entre eles se possa vir a existir e que possa moldar e justifique o tipo e grau de cedências de ambas as parte.

Isto não contando com as inultrapassáveis linhas vermelhas que cada um colocará em cima da mesa.

Havendo ou não uma vitória com maioria relativa do PS ou da própria coligação de direita a verdade é que se a direita governar isso só seria possível com os votos favoráveis ou a abstenção do PS.

Como as afirmações de A Costa foram claras em estabelecer que somente com a invasão marciana, que não é expectável, poderia coligar-se com a direita, parece ser do seu maior interesse encontrar uma forma que lhe permitisse ser governo neste outono. Ou então será a sua completa descredibilização pessoal e politica.

Por outro lado o PC não estaria interessado em dar uma mão ao PS para este governar em rédea solta, traindo o que desde sempre afirmou e traindo também o seu fiel e difícil eleitorado, pelo que só um entendimento firme e claro o poderia fazer mudar de paradigma politico.  

Por outro lado ainda, a tentação dum governo minoritário do PS que, não tenho dúvidas, iria ser bem visto pela direita, só iria conduzir o PS ao desaparecimento a termo certo e, por isso mesmo, não teria dificuldade em ser, por ela, aceite, não constituirá, assim, alternativa credível, a não ser que o PS continue na senda da alegre autodestruição dos últimos e desastrados tempos.

Aqui chegados e não podendo serem convocadas eleições nos tempos mais próximos, o que a direita preferiria, um entendimento à esquerda e que obrigatoriamente incluiria o PC será para o PS o desejável, mesmo que não desejado.

Estará no entanto o PC interessado num entendimento político que possa conduzir a um governo maioritário, quando estará em crescendo e o PS ficaria entalado entre ele e uma direita a recuperar e, a prazo, vir o PS a pagar caro por isso?

Não sei e provavelmente ninguém, nem mesmo no PC, saberá, dependendo da já citada e futura correlação de forças que sair das eleições.

Um PC fraco mas ainda assim necessário para fazer maioria, levaria o PS a fazer exigências inaceitáveis para o PC, mas um PC com alguma força eleitoral, o que até se perfila no horizonte, poderia permitir ao PS ser mais maleável e chegarem a um extraordinário entendimento politico. Um entendimento difícil, mas que alcançado seria respeitado.

A verdade é que estes caminhos são difíceis, mas a historia mostra que o PC já votou em Soares e já se coligou na CML, naquela que foi a melhor gestão autárquica da capital.

Muitas e fortes oposições internas, tanto no PS como no PC, poderão surgir.

Curiosamente mais fáceis de contornar no PC do que no PS que anda a trilhar os caminhos da autoflagelação.

Mas ainda assim esta é uma possibilidade que já ninguém, a começar pelos meios de comunicação social, afastam do horizonte político.

E são vários os indícios dessa possibilidade, goste-se ou não dela.

No PC, onde as dúvidas e dificuldades poderiam ser maiores, as últimas declarações de Jerónimo, a tranquilidade com que as produziu na TVI, nomeadamente afirmando estar o PC pronto a ir para o governo, as sondagens conhecidas e até declarações de outros dirigentes como António Filipe, permitem especular que um dos caminhos que poderá ajudar a uma aproximação seria a existência dum candidato comum ou pelo menos o apoio comum a Sampaio da Nóvoa.

Já no PS as declarações de Costa sempre comportaram uma retórica mais à esquerda do que o habitual e não seria completamente surpreendente se desse passos nesse sentido.

Aliás tal possibilidade é muito real, tendo em conta que o PS acabará por apoiar o ex reitor da UL e o PC já afirmou que contribuirá para uma vitória dum candidato desse tipo.

Veremos, mas provavelmente a situação eleitoral, se não mudar muito e haja uma vitória do PS ou da coligação de direita ainda que sem maioria absoluta, acabará por empurrar Costa para a necessidade de entendimentos à esquerda e, ao PC, se este tiver um crescimento razoável, para a necessidade de se afirmar como partido de poder, assim sejam salvaguardadas questões para si fundamentais.

A direita teme mais do que se imagina essa possibilidade, porque não só faria cair por terra a esperança de ter eleições a curto prazo e aproveitar um eventual e possível descalabro do PS, mas porque veria o caminho da sua ofensiva ideológica chegar ao fim.

Muitos portugueses que antes não estariam preparados para uma experiência política deste tipo, parecem hoje sociologicamente mais disponíveis.

Será possível? não sei, mas quem está mais entalado neste momento e nos próximos meses, parece ser o PS.

 

Citizen Red

 
 

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