domingo, 3 de fevereiro de 2013

O desespero dos novos órfãos da crise




A crise longa, e que por força dos últimos governos mais longa se vem tornando, produziu muitos desesperados.
Foram os desesperados que resultaram dos inicialmente indignados.
Gente sem trabalho que depois passou a ser gente sem subsídio de desemprego.
Milhares todos os dias e que serão mais.
Famílias completas.
Jovens sem nunca terem experimentado, sequer, o mercado de trabalho, ou muitas vezes sem nunca terem trabalhado nas áreas das suas competências e em que as famílias investiram anos e economias.
Outros que se viram obrigados a emigrar, não por opção o que seria o desejável, mas por não terem outra maneira de se emanciparem ou simplesmente porque senão entravam em desespero.
Outros ainda que dum momento para o outro passaram, sem perceber como e porquê, a ser ricos e como tal desapropriaram-nos de parte dos seus legítimos rendimentos do trabalho ou de reforma.
Outros mesmo que deixaram de ter dinheiro para sobreviver e vivem à custa da caridade, coisa que pensávamos já ter desaparecido do quotidiano normal das famílias portuguesas.
Destes e são quase todos ou pelo menos a grande maioria dos cidadãos, depende a resposta que a crise necessita que seja dada.
Mas há uma grande parte deles que são também desesperados, não da crise social que atravessamos mas em resultado da situação politica que dela emergiu.
São um outro tipo de desesperados, mas em grande parte, são os mesmos e que por isso sofrem dum desespero duplo.
Votaram nos partidos do chamado arco da governação, que não do triunfo, e como tudo lhes saiu ao contrário do que imaginavam, uns, e outros sonharam, hoje sentem-se desesperados.
Os meus amigos do CDS ainda vá que não vá que como têm andado sempre com um pé fora do governo e dois lá dentro, ainda conseguem, a custo, mas conseguem, encontrar no videirinho que os comanda uma luz que lhes desculpa a má consciência de repetir o voto.
Já os meus amigos votantes no PS andam doidos entre o Seguro e o Sócrates, via António Costa, e as suas carícias oposicionistas ao governo.
Os que entregaram o seu destino nas mãos do PSD/Coelho, então esses, estão completamente desesperados porque não sabem o que hão-de fazer com o seu lindo voto, quando o homem que comanda os seus destinos é o mesmo que lhes rouba o destino que ambicionavam.
Todos estão desesperados porque lhes estão a ir ao bolso, da frente, de trás, do casaco, das calças, enfim, todo e qualquer bolso que tenham, e até que não tenham.
Mas o desespero é maior e duplo, porque não sabem em quem votar.
Não tendo coragem para mudarem o sentido tradicional do seu voto, seja por preconceito ou enraizamento sociológico, a verdade é que desesperam porque não conseguem dar um sentido útil e coerente ao seu desespero social e económico, pois, por muito que lhes custe admitir, estão a ir-lhes ao bolso de forma a afectar-lhes profundamente o seu nível habitual de vida.
Principalmente quando, ainda por cima, os arautos da sua desgraça, mostram desprezo pelas consequências das suas decisões e falta de escrúpulos na forma como as concretizam. 
Que fazer então quando sentem não ter nada nem ninguém a quem se agarrar politicamente.
Um vazio profundo e desesperante por não saberem o que fazer quando forem chamados a pronunciarem-se sobre o destino a darem ao seu desespero.
Sentem-se desesperadamente órfãos.
São, na verdade, os novos órfãos da política.

citizen red, 02/02/2013