A crise longa, e que por força dos últimos governos mais
longa se vem tornando, produziu muitos desesperados.
Foram os desesperados que resultaram dos inicialmente
indignados.
Gente sem trabalho que depois passou a ser gente sem subsídio
de desemprego.
Milhares todos os dias e que serão mais.
Famílias completas.
Jovens sem nunca terem experimentado, sequer, o mercado
de trabalho, ou muitas vezes sem nunca terem trabalhado nas áreas das suas
competências e em que as famílias investiram anos e economias.
Outros que se viram obrigados a emigrar, não por opção o
que seria o desejável, mas por não terem outra maneira de se emanciparem ou
simplesmente porque senão entravam em desespero.
Outros ainda que dum momento para o outro passaram, sem perceber
como e porquê, a ser ricos e como tal desapropriaram-nos de parte dos seus
legítimos rendimentos do trabalho ou de reforma.
Outros mesmo que deixaram de ter dinheiro para sobreviver
e vivem à custa da caridade, coisa que pensávamos já ter desaparecido do
quotidiano normal das famílias portuguesas.
Destes e são quase todos ou pelo menos a grande maioria
dos cidadãos, depende a resposta que a crise necessita que seja dada.
Mas há uma grande parte deles que são também
desesperados, não da crise social que atravessamos mas em resultado da situação
politica que dela emergiu.
São um outro tipo de desesperados, mas em grande parte,
são os mesmos e que por isso sofrem dum desespero duplo.
Votaram nos partidos do chamado arco da governação, que não
do triunfo, e como tudo lhes saiu ao contrário do que imaginavam, uns, e outros
sonharam, hoje sentem-se desesperados.
Os meus amigos do CDS ainda vá que não vá que como têm
andado sempre com um pé fora do governo e dois lá dentro, ainda conseguem, a
custo, mas conseguem, encontrar no videirinho que os comanda uma luz que lhes
desculpa a má consciência de repetir o voto.
Já os meus amigos votantes no PS andam doidos entre o
Seguro e o Sócrates, via António Costa, e as suas carícias oposicionistas ao
governo.
Os que entregaram o seu destino nas mãos do PSD/Coelho, então
esses, estão completamente desesperados porque não sabem o que hão-de fazer com
o seu lindo voto, quando o homem que comanda os seus destinos é o mesmo que
lhes rouba o destino que ambicionavam.
Todos estão desesperados porque lhes estão a ir ao bolso,
da frente, de trás, do casaco, das calças, enfim, todo e qualquer bolso que
tenham, e até que não tenham.
Mas o desespero é maior e duplo, porque não sabem em quem
votar.
Não tendo coragem para mudarem o sentido tradicional do
seu voto, seja por preconceito ou enraizamento sociológico, a verdade é que
desesperam porque não conseguem dar um sentido útil e coerente ao seu desespero
social e económico, pois, por muito que lhes custe admitir, estão a ir-lhes ao
bolso de forma a afectar-lhes profundamente o seu nível habitual de vida.
Principalmente quando, ainda por cima, os arautos da sua
desgraça, mostram desprezo pelas consequências das suas decisões e falta de
escrúpulos na forma como as concretizam.
Que fazer então quando sentem não ter nada nem ninguém a
quem se agarrar politicamente.
Um vazio profundo e desesperante por não saberem o que
fazer quando forem chamados a pronunciarem-se sobre o destino a darem ao seu
desespero.
Sentem-se desesperadamente órfãos.
São, na verdade, os novos órfãos da política.
citizen red, 02/02/2013