terça-feira, 27 de maio de 2014

A ressaca das eleições

O resultado das eleições europeias foram madrastas para alguns e principalmente para os comentaristas do costume.
 
Com a emersão da extrema direita na maioria dos países da UE que demonstrou, de forma infeliz e impensável o descontentamento dos cidadãos europeus com a atual UE e as sua politicas, a realidade é que em Portugal, no 40º aniversário do 25 de Abril, fomos felizmente brindados com uma das mais expressivas vitórias da esquerda e consequente derrota da direita caseira com uma descida tão significativa como esta passar de mais de 50% dos votos para menos de 30%, ou seja uma queda de mais de 20 pontos, com a característica importante de que a esquerda mais combativa para com a troika e as politicas recessivas e de empobrecimento da UE, contabilizar em conjunto mais de 25% dos votos o que constituiu uma subida que também ajuda a colocar, para além do mais, os partidos do chamado arco da governação (da troika) abaixo dos 2/3 dos votos o que lhes tem permitido jogar com as revisões da Constituição a seu bel prazer.
 
Mas o que as eleições também evidenciam é que com a alteração que se registou no comportamento do eleitorado europeu e também português, muito provavelmente tão cedo não irão acontecer mais maiorias absolutas e também por isso a posição de A.J. Seguro, provavelmente, não poderá ser contestada porque os resultados alcançados pelo PS seriam sempre estes e não aqueles que os seus dirigentes gostariam que fossem.
 
Podem, por isso, os comentaristas de serviço continuarem a especular sobre como dividirão o poder PS, PSD e CDS que a abstenção, mas principalmente os votos brancos e nulos e a votação em particular na CDU e em Marinho Pinto não augura um retorno ao velho rotativismo politico e que as votações em quase todos os países europeus confirmam, apesar de aí já ser natural essa dispersão partidária acontecer.
 
Mas também outra evidência que se retira destas eleições é que provavelmente não havendo uma maioria absoluta da direita unida nem mesmo do PS, estando, a pouco mais de um ano das eleições, a coligação de direita a cerca de 20 pontos e o PS a mais de 15 pontos de distância desse resultado, as alternativas terão que ser encontradas à esquerda.
 
Com o PS com uma liderança constantemente posta em causa e que nunca mostrou abertura para poder fazer pontes com a CDU e o BE, parece poder ganhar força e credibilidade uma liderança que consiga fazer pontes de aproximação entre a esquerda toda e não vejo, nesta conjuntura, outra personagem com capacidade para isso senão João Soares que em tempos ajudou a promover a coligação por Lisboa e encarna claramente a ala mais à esquerda do PS.
 
A breve prazo esta não será uma hipótese, mas antes uma necessidade para o país.
 
Talvez assim se pudesse pensar em, verdadeiramente, convergir a esquerda para uma alternativa real de governo e de novas politicas económicas e sociais.
 
Assim todos os preconceitos e desconfianças entre as forças de esquerda possam se ultrapassadas
 
Finalmente estes resultados trazem uma outra evidência. 
 
É que com os números tão baixos alcançados pela coligação de direita, esta, tão cedo, não conseguirá sobreviver em termos de candidatar-se a formar governo, senão em coligação.
 
Só que essa indispensável, nesta altura, coligação, irá a prazo acabar por devorar um dos partidos, naturalmente o mais pequeno, e, por isso, o CDS terá a breve trecho os seus dias contados enquanto partido independente do seu futuro devorador, PSD, com a agravante de, atendendo à sua já escassa expressão eleitoral, nem a habitual tendência para se virar em desespero para o PS, poderá agora, entretanto, ser usada.
 
Parece pois que a derrota da direita poderá ter sido bem mais vasta do que ele própria pretende fazer crer, sendo que, também o PS terá, por muito que isso lhe custe, mais cedo ou mais tarde que assumir, ter perdido a ilusão de poder ser poder sozinho.
 
Assim sendo o caminho para uma alteração profunda da composição do espectro politico em Portugal está em marcha e a possibilidade de uma alternativa consistente à esquerda que altere o rumo do país e que inclua todos, é possível.   
 
Lisboa, 27/05/2014