Inicio de ano promissor, ou talvez não.
É normal e costume fazer-se um balanço do ano que finda.
Por mim prefiro fazer um apanhado do inicio do ano, até para começar a apalpar terreno e, como seria de esperar, parece que o mesmo está minado, apesar de algumas boas noticias e acontecimentos a relevar.
Apesar de ser muito subjectivo e emocinal, gostei imenso de ver o meu compadre Michael Douglas, renascer duma morte prematuramente anunciada após uma luta que bem se sabe ser, por vezes, difícil e dura. Como ele dizia com muita piada, quando, na apresentação que ele fez dos vencedores dos globos de ouro deste ano, foi efusivamente aplaudido, haveria de haver uma maneira mais fácil para se merecer tamanho reconhecimento.
Também me soube muito bem ver um belíssimo e muito interessante filme - “o concerto” - que trata com muito humor, aliás este filme na verdade é primeiro que tudo uma comédia, a realidade da Rússia actual na sua vertente sociológica e social, mas que termina com um excerto de um concerto, daí o nome, em que é tocada uma peça de Tchaikovsky, lindíssima e que dá uma dimensão ao próprio filme que permite apreende-la para além da comédia e que é muito forte e emocionante. A mim emocionou-me, e bem.
Outra agradável surpresa é o aparecimento de uma figura pública muito curiosa e que transporta uma carga pessoal e afectiva que parece estar a tocar muitos daqueles que já estão fartos dos mesmos de sempre, mesmo que para alguns essa apreciação possa ser injusta, e que é o camarada Coelho.
Depois da heróica e duríssima cruzada na sua Madeira natal, contra o escroque Jardim, o camarada Coelho tem-nos presenteado com humor e imaginação na denúncia de muitas situações pouco claras e no relembrar de muitas outras verdades incómodas. Vai-se tornar, com certeza numa figura nacional.
Finalmente a também boa noticia de que apesar dos estrangulamentos financeiros e as pressões politicas, a wikileaks, resiste e vai publicitar informação sobre o sistema bancário suíço e as suas falcatruas através das off shores, comportamentos que podemos facilmente adivinhar replicados por todo o sistema bancário internacional.
Mas como nem tudo podia ser promissor, fomos confrontados com as espertices saloias da maioria dos candidatos presidenciais.
Gostei particularmente da hipocrisia do comedor de bolo-rei, D.Cavaco, desmarcando-se, que nem o Néne nos seus bons velhos tempos, das suas responsabilidades na merda que tem sido espalhada pelo rectângulo e adjacentes. Ao seu nível só as atitudes extremosas da sua Maria, mais parecendo a Maria de outros tempos, em que “botas” era, não só substantivo, mas também apelido.
Salva-se no meio do Arraial, a coerente “cassetagem” do meu homónimo Francisco e a pueril franqueza do camarada Coelho.
Tudo isto cheira a mofo e a bafio. Mas como nos tempos em que o mofo o bafio eram a normalidade dos lares portugueses, também agora a ignorância e a mansice do povo se revela e, comme d`habitude, vão que nem cordeiros, mas conscientes, para o ritual do sacrifício.
Nada vai mudar, porque na realidade não se quer, nem se pretende mudar e com este caminho minado pelas inevitabilidades anunciadas o ano será tal qual o que previa. O mesmo de sempre.
Mas o que me traz ânimo e me devolve a esperança foi a revelação que apesar das vicissitudes da vida, nem sempre a grande diferença de idades nos casais, assumidos ou dissimulados, provoca estragos ou incidentes cortantes nas relações entre eles. Veja-se o bonito exemplo que nos é trazido pelos embevecidos namorados, Pintinho da Costa e senhorita baiana. Bonito de se ver e revelador dos verdadeiros e cândidos sentimentos. Só ainda não percebi se ela, para além do seu natural amor que se sente e é visível, gosta mais do Papa ou da papinha.
Haja esperança num ano de 2011, tão promissor como o Janeiro dos meus 51 invernos.
Citizen Red, 20/01/2010.