A
ilusão do PS é grande mas não tem grande sentido.
Com
a vitória de António Costa os militantes do PS acreditam
vislumbrar uns quantos amanhãs que cantam, que não estou
certo lhes seja proporcionado.
São
os velhos militantes que esperam ver novamente abrisse-lhes as
portas do poder e os jovens turcos ansiosos por poderem chegar-lhe
mais perto.
No
entanto essa ilusão de que agora o PS poderá,
sozinho, destronar a direita do poder, através duma maioria
absoluta, é tão ingénua como irreal.
É
certo que um PS liderado por António Costa irá provocar
alguma perturbação politica, mas a primeira e mais
significativa e talvez mesmo única alteração, será, estou
certo, na canibalização da extrema esquerda, cujo
eleitorado típico irá deixar-se seduzir por um PS de capa
mais de esquerda, com punhos erguidos e cravos na lapela, o
que muito provavelmente conduzirá o BE a reduzir-se à sua
antiga expressão rondando os 3/4%, para além de tirar
margem de manobra aos emergentes partidos e movimentos
dissidentes do Bloco que acabarão por ter que esperar
por melhores dias para poderem ter expressão parlamentar, o
que, podendo fortalecer ligeiramente o PS, não aumenta,
realmente, os resultados da esquerda no seu conjunto.
Já
relativamente ao sonho de poder o PS penetrar no eleitorado
do PCP, não parece que este seja tão vulnerável aos apelos duma
sereia socialista e a subida consistente nas últimas
eleições não augura nada de bom para os lados do Rato.
Provavelmente
o PCP poderá ainda é acabar por seduzir alguns desiludidos com a
trajetória descendente do Bloco e, também por via
disso, aumentar ainda mais, o seu resultado eleitoral.
Mas
também não é verosímil que a direita com a subida de
António Costa à liderança do PS não vá aproveitar para, nos
próximos meses, embalados por algum abrandamento na austeridade,
lembrar até à exaustão os malefícios da governação Sócrates,
que facilmente colará a Costa.
E
esse discurso acabará por deixar de pé atrás muitos dos
eleitores tipicamente de centro que o PS almejaria conquistar
ao PSD e que, muito provavelmente, mais facilmente se
deixarão seduzir pelo novel partido do Marinho Pinto.
Ou
seja o PS ficará entalado e à direita terá pouca margem para
crescer nesse eleitorado, mais do que já fez e, acossado pelo
mais que provável aparecimento do populismo do novo partido anti
sistema do rechonchudo Marinho Pinto, acabará por ver fugir-lhe
uns quantos eleitores que contava para a sua ilusão em alcançar
uma maioria absoluta.
Assim
sendo, o que acontecerá será aquilo que facilmente se previa,
mas que, o PS embebedado pela ansia de uma maioria absoluta e não
tendo capacidade para perceber o alcance dos últimos resultados
eleitorais, teima em não aceitar: a inexistência de qualquer
tipo de maioria absoluta decorrente das próximas eleições
legislativas.
Em
consequência, o PS podendo aumentar ligeiramente a sua expressão
eleitoral e até tentar ter mais votos que o PSD e CDS juntos, não
conseguirá, nunca, alcançar essa ansiada maioria
absoluta, que, aliás, os portugueses, vêm demonstrando
não pretender atribuir a nenhum partido isoladamente.
Certo
é que a direita não conseguirá atingir o poder de modo
próprio e só uma ajuda do PS lhe poderia proporcionar essa
ambição.
Já o
PS, se quiser protagonizar uma mudança nas politicas de
empobrecimento do governo de Coelho, provavelmente teria, sempre,
que se apoiar no PCP ou então aliar-se ao populismo de
Marinho Pinto ou a um CDS divorciado do PSD, se
algum deles tiver expressão eleitoral suficiente para isso, o que
não se vislumbra provável.
Parece
assim que a mudança de liderança no PS, muito impulsionada pela
ilusão de que uma maioria absoluta seria possível com Costa e
não com Seguro, acabará por, ao invés, ser uma enorme desilusão
para a tribo socialista.
O
PS, com Costa, pode fazer com que os seus militantes e
simpatizantes votem mais felizes, mas, seguramente, não atingirá
mais votos ou a felicidade de uma maioria absoluta.
citizen
red, 29/09/2014