quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A merecida e facilitada vida de Vitória


Nunca fui jesuíta nem vieirista, mas admito que um foi um razoável treinador e outro está-se a tornar num muito razoável presidente.

 Neste defeso Vieira resistiu, e bem, se bem que a alternativa fosse muito estreita, a encetar uma fuga para a frente e, não indo no canto de sereia dos comentaristas e empresários futebolísticos, resistiu a contratar por contratar.

Ao fazê-lo, e parecendo que desguarnecia a equipa de futebol, na verdade acabou por reforçar o apoio ao treinador e dar-lhe um voto de confiança. Mas também à equipa.

Vieira tinha afirmado que iria apostar na formação e ao manter a promessa, concretizando-a, de ficar com cinco jogadores oriundos da formação, que já passaram a seis com a inclusão de Vitor Andrade na equipa principal, dos quais três já começaram a jogar oficialmente, acaba por implicitamente afirmar que tem confiança no treinador e que não precisa de mais jogadores vindos do exterior, muito provavelmente e como tantas vezes aconteceu, de duvidosa capacidade para entrar de caras na equipa, para se bater pelo campeonato e fazer os mínimos na Champions League.

Esta opção leva inevitavelmente a baixar as expetativas e por isso mesmo a pôr o treinador numa posição mais cómoda e livre de qualquer percalço.

Se Vieira suportou Jesus para lá do suportável, seria incompreensível e contra toda lógica e forma de pensar dele que Vitória, nesta situação de menor investimento, pudesse sofrer uma maior e mais severa avaliação, logo neste primeiro ano como treinador.

É pois minha convicção que, independentemente das opiniões sobre o perfil ou capacidade de Rui Vitória para liderar a equipa do Benfica, se não vai ter as mesmas condições a nível de jogadores que teve Jesus, vai, pelo menos e nos tempos que correm é bastante importante, contar com um apoio do presidente que o deixará tranquilo durante muito tempo.

E Rui Vitória merece.

Não só porque é justo ter tempo para mostrar o que vale, e o lastro que traz permite-lhe ser concedido o beneficio da dúvida, mas porque tem sido duma lealdade, profissionalismo e correção para com Vieira e para com o clube, que deve ser registado e fica a léguas daqueles que Jesus demonstrou no seu percurso no clube, onde bastas vezes chorou e chorou o suficiente para mamar à grande e à francesa.

Pode pois estar Vitória descansado que não será por falta de apoio de Vieira que falhará no Benfica e a maior prova disso é, paradoxalmente que possa parecer, este menor investimento na parte final da janela de transferências e o deixar bem claro que a aposta é nos jogadores da casa e, consequentemente, num tipo de treinador que Rui Vitória nesta altura melhor personifica.
 
Citizen Red  

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

ENTENDIMENTOS À ESQUERDA



Nestas eleições, aquilo que parece ser, apesar de tudo, mais certo dentro da incerteza da situação é que não haverá maiorias absolutas.

Esse objetivo permanente e máximo do centrão, nos últimos tempos acolitado pelo ex. partido do táxi, que foi entretanto rebatizado por arco da governação, já não convence ninguém, nem ninguém, incluindo o seu mais recente defensor, Cavaco Silva, acredita que venha a ser alcançado.

Neste provável quadro político e com a direita esgotada na capacidade de união de votos e consequentemente, mandatos – talvez pudesse acrescentar os provavelmente escassos oriundos do CM, perdão, de Marinho Pinto –, somente a esquerda parlamentar, poderá, em tese, alcançar uma situação de maioria pós eleitoral.

Mas como as sondagens indiciam, e elas valem o que valem mas sempre valem alguma coisa, somente os votos e mandatos do PS e PS juntos poderão eventualmente constituir essa maioria politica. Acrescente-se ou não os mandatos do BE.

Ora, sendo muitas e profundas, à partida, as divergências programáticas entre esses partidos e tendo que haver cedências de parte a parte, é minha opinião que duas circunstâncias irão condicionar essa já de si difícil possibilidade.

Em primeiro lugar o interesse de cada um dos partidos em que esse entendimento global se faça e que permita uma solução governativa estável, ou seja para uma legislatura.

Em segundo lugar a correlação de forças que entre eles se possa vir a existir e que possa moldar e justifique o tipo e grau de cedências de ambas as parte.

Isto não contando com as inultrapassáveis linhas vermelhas que cada um colocará em cima da mesa.

Havendo ou não uma vitória com maioria relativa do PS ou da própria coligação de direita a verdade é que se a direita governar isso só seria possível com os votos favoráveis ou a abstenção do PS.

Como as afirmações de A Costa foram claras em estabelecer que somente com a invasão marciana, que não é expectável, poderia coligar-se com a direita, parece ser do seu maior interesse encontrar uma forma que lhe permitisse ser governo neste outono. Ou então será a sua completa descredibilização pessoal e politica.

Por outro lado o PC não estaria interessado em dar uma mão ao PS para este governar em rédea solta, traindo o que desde sempre afirmou e traindo também o seu fiel e difícil eleitorado, pelo que só um entendimento firme e claro o poderia fazer mudar de paradigma politico.  

Por outro lado ainda, a tentação dum governo minoritário do PS que, não tenho dúvidas, iria ser bem visto pela direita, só iria conduzir o PS ao desaparecimento a termo certo e, por isso mesmo, não teria dificuldade em ser, por ela, aceite, não constituirá, assim, alternativa credível, a não ser que o PS continue na senda da alegre autodestruição dos últimos e desastrados tempos.

Aqui chegados e não podendo serem convocadas eleições nos tempos mais próximos, o que a direita preferiria, um entendimento à esquerda e que obrigatoriamente incluiria o PC será para o PS o desejável, mesmo que não desejado.

Estará no entanto o PC interessado num entendimento político que possa conduzir a um governo maioritário, quando estará em crescendo e o PS ficaria entalado entre ele e uma direita a recuperar e, a prazo, vir o PS a pagar caro por isso?

Não sei e provavelmente ninguém, nem mesmo no PC, saberá, dependendo da já citada e futura correlação de forças que sair das eleições.

Um PC fraco mas ainda assim necessário para fazer maioria, levaria o PS a fazer exigências inaceitáveis para o PC, mas um PC com alguma força eleitoral, o que até se perfila no horizonte, poderia permitir ao PS ser mais maleável e chegarem a um extraordinário entendimento politico. Um entendimento difícil, mas que alcançado seria respeitado.

A verdade é que estes caminhos são difíceis, mas a historia mostra que o PC já votou em Soares e já se coligou na CML, naquela que foi a melhor gestão autárquica da capital.

Muitas e fortes oposições internas, tanto no PS como no PC, poderão surgir.

Curiosamente mais fáceis de contornar no PC do que no PS que anda a trilhar os caminhos da autoflagelação.

Mas ainda assim esta é uma possibilidade que já ninguém, a começar pelos meios de comunicação social, afastam do horizonte político.

E são vários os indícios dessa possibilidade, goste-se ou não dela.

No PC, onde as dúvidas e dificuldades poderiam ser maiores, as últimas declarações de Jerónimo, a tranquilidade com que as produziu na TVI, nomeadamente afirmando estar o PC pronto a ir para o governo, as sondagens conhecidas e até declarações de outros dirigentes como António Filipe, permitem especular que um dos caminhos que poderá ajudar a uma aproximação seria a existência dum candidato comum ou pelo menos o apoio comum a Sampaio da Nóvoa.

Já no PS as declarações de Costa sempre comportaram uma retórica mais à esquerda do que o habitual e não seria completamente surpreendente se desse passos nesse sentido.

Aliás tal possibilidade é muito real, tendo em conta que o PS acabará por apoiar o ex reitor da UL e o PC já afirmou que contribuirá para uma vitória dum candidato desse tipo.

Veremos, mas provavelmente a situação eleitoral, se não mudar muito e haja uma vitória do PS ou da coligação de direita ainda que sem maioria absoluta, acabará por empurrar Costa para a necessidade de entendimentos à esquerda e, ao PC, se este tiver um crescimento razoável, para a necessidade de se afirmar como partido de poder, assim sejam salvaguardadas questões para si fundamentais.

A direita teme mais do que se imagina essa possibilidade, porque não só faria cair por terra a esperança de ter eleições a curto prazo e aproveitar um eventual e possível descalabro do PS, mas porque veria o caminho da sua ofensiva ideológica chegar ao fim.

Muitos portugueses que antes não estariam preparados para uma experiência política deste tipo, parecem hoje sociologicamente mais disponíveis.

Será possível? não sei, mas quem está mais entalado neste momento e nos próximos meses, parece ser o PS.

 

Citizen Red

 
 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A ilusão do PS



A ilusão do PS é grande mas não tem grande sentido.
Com a vitória de António Costa os militantes do PS acreditam vislumbrar uns quantos amanhãs que cantam, que não estou certo lhes seja proporcionado.
São os velhos militantes que esperam ver novamente abrisse-lhes as portas do poder e os jovens turcos ansiosos por poderem chegar-lhe mais perto.
No entanto essa ilusão de que agora o PS poderá, sozinho, destronar a direita do poder, através duma maioria absoluta, é tão ingénua como irreal.
É certo que um PS liderado por António Costa irá provocar alguma perturbação politica, mas a primeira e mais significativa e talvez mesmo única alteração, será, estou certo, na canibalização da extrema esquerda, cujo eleitorado típico irá deixar-se seduzir por um PS de capa mais de esquerda, com punhos erguidos e cravos na lapela, o que muito provavelmente conduzirá o BE a reduzir-se à sua antiga expressão rondando os 3/4%, para além de tirar margem de manobra aos emergentes partidos e movimentos dissidentes do Bloco que acabarão por ter que esperar por melhores dias para poderem ter expressão parlamentar, o que, podendo fortalecer ligeiramente o PS, não aumenta, realmente, os resultados da esquerda no seu conjunto.
Já relativamente ao sonho de poder o PS penetrar no eleitorado do PCP, não parece que este seja tão vulnerável aos apelos duma sereia socialista e a subida consistente nas últimas eleições não augura nada de bom para os lados do Rato.
Provavelmente o PCP poderá ainda é acabar por seduzir alguns desiludidos com a trajetória descendente do Bloco e, também por via disso, aumentar ainda mais, o seu resultado eleitoral.  
Mas também não é verosímil  que a direita com a subida de António Costa à liderança do PS não vá aproveitar para, nos próximos meses, embalados por algum abrandamento na austeridade, lembrar até à exaustão os malefícios da governação Sócrates, que facilmente colará a Costa.
E esse discurso acabará por deixar de pé atrás muitos dos eleitores tipicamente de centro que o PS almejaria conquistar ao PSD e que, muito provavelmente, mais facilmente se deixarão seduzir pelo novel partido do Marinho Pinto. 
Ou seja o PS ficará entalado e à direita terá pouca margem para crescer nesse eleitorado, mais do que já fez e, acossado pelo mais que provável aparecimento do populismo do novo partido anti sistema do rechonchudo Marinho Pinto, acabará por ver fugir-lhe uns quantos eleitores que contava para a sua ilusão em alcançar uma maioria absoluta.
Assim sendo, o que acontecerá será aquilo que facilmente se previa, mas que, o PS embebedado pela ansia de uma maioria absoluta e não tendo capacidade para perceber o alcance dos últimos resultados eleitorais, teima em não aceitar: a inexistência de qualquer tipo de maioria absoluta decorrente das próximas eleições legislativas.
Em consequência, o PS podendo aumentar ligeiramente a sua expressão eleitoral e até tentar ter mais votos que o PSD e CDS juntos, não conseguirá, nunca, alcançar essa ansiada maioria absoluta, que, aliás, os portugueses, vêm demonstrando não pretender atribuir a nenhum partido isoladamente.
Certo é que a direita não conseguirá atingir o poder de modo próprio e só uma ajuda do PS lhe poderia proporcionar essa ambição.
Já o PS, se quiser protagonizar uma mudança nas politicas de empobrecimento do governo de Coelho, provavelmente teria, sempre, que se apoiar no PCP ou então aliar-se ao populismo de Marinho Pinto ou a um CDS divorciado do PSD, se algum deles tiver expressão eleitoral suficiente para isso, o que não se vislumbra provável.
Parece assim que a mudança de liderança no PS, muito impulsionada pela ilusão de que uma maioria absoluta seria possível com Costa e não com Seguro, acabará por, ao invés, ser uma enorme desilusão para a tribo socialista.
O PS, com Costa, pode fazer com que os seus militantes e simpatizantes votem mais felizes, mas, seguramente, não atingirá mais votos ou a felicidade de uma maioria absoluta.
 
citizen red, 29/09/2014 
   


terça-feira, 3 de junho de 2014

A farsa da falsa mudança.

O medo da mudança é grande, particularmente nos partidos instalados confortavelmente no salão, até agora restrito, da confabulação politica.

As eleições assustaram muito os partidos do chamado centrão, cada vez mais pequeno e, por isso mesmo, fazendo soar algumas campainhas de alerta nos ouvidos tísicos do poder instalado, assim que sentiram no ar a possibilidade de algo poder estar verdadeiramente a mudar e negativamente afeta-los, rapidamente passaram à congeminação duma saída que lhes fosse inquestionavelmente favorável.
 
Com o diminuir da percentagem eleitora, real e prevista, dos partidos que sempre dominaram a governação em Portugal, para além do aumento de várias forças politicas menos submissas, a que se acrescentou a onda que varreu a europa e comprovou que desta vez talvez não haja retrocesso, surgiram de imediato propostas que têm o objetivo de alterar o equilíbrio do sistema eleitoral, puramente proporcional, e, consequentemente, transforma-lo de forma a promover artificialmente o nascimento de maiorias absolutas.

Esse é um interesse comum a quem se viu ameaçado no status quo politico partidário, PSD/CDS/PS e que, rapidamente, começou a instigar e promover tal mudança.

Logo após o fim de semana eleitora para as europeias vimos, ouvimos e não podemos ignorar, essa eminência parda da direita governativa, que do alto da sua artificial estatura politica e académica, Relvas de seu nome e "o aldrabão" de cognome, veio afirmar a necessidade de alterar o sistema eleitoral, ressuscitando propostas que levariam ao desrespeito da proporcionalidade e matando ou ferindo irremediavelmente os partidos mais pequenos, incluindo, naturalmente o seu parceiro de coligação, amarrado assim e durante muitos anos á coligação atual e que o levará também e inevitavelmente a definhar e finalmente esfumar-se do espetro politico nacional.

Mas também dias depois e não por acaso, mas aproveitando de forma oportunista a necessidade de sobreviver partidariamente, Seguro, essa insegurança politica que ainda governa o PS, tirou da sua coçada cartola esse coelho requentado e estafado sobre a necessidade de alterar o sistema eleitoral, temperado com a demagógica e populista ideia de que se deverá baixar drasticamente o número de deputados para poderem passarem a ser eticamente irrepreensíveis e, coincidentemente com o PSD ambos ameaçados de, drasticamente, verem fugir-lhes a ilusão absolutamente maioritária do poder, propôs o mesmo que o companheiro Relvas. Bonito e revelador.

Essas personagens e os seus partidos, interpretando, é verdade, os receios dos seus militantes e amigos do peito em perderem o poder e as suas obvias vantagens, pensando ainda ser reversível o estado de espirito dos eleitores e continuarem a crer que lhes é possível voltarem a ter gloriosas maiorias absolutas, colocaram na agenda mediática essa salvadora proposta, que, sorrateiramente, vão tentar aprovar, como se as suas intenções fossem desprovidas de interesse próprio e não correspondesse, como é bom de ver, à última possibilidade que têm de, estrategicamente, inverterem o seu declínio eleitoral e social.

É, evidentemente, um interesse comum a PSD e PS e uma ideia que nos próximos tempos veremos alguns dos arautos do status quo atual e fervorosos adeptos do centrão, aproveitar para teorizar e defender como única forma de regenerar um sistema que eles próprios vêm construindo e dominado sempre na defesa dos seus interesses próprios.

Outros, quais virgens envergonhadas com os seus desejos reprimidos pela necessidade de cultivarem uma áurea de compostura e desvelo democrático, calar-se-ão ou, redondamente discorrendo, deixarão correr o marfim na expetativa de colherem os benefícios da sua abstenção politicamente discreta.

Esperemos, então, que os cidadãos eleitores não se deixem enganar com falsas promessas de virtudes ilusórias, pois os mesmos que lhes oferecem essa promessa, serão aqueles que os deixarão órfãos de controlo politico plural, num futuro e monocromático Parlamento submerso nos tons escuros da sua, mais que provável, frustração.

Lisboa, 3/06/2014   

 

terça-feira, 27 de maio de 2014

A ressaca das eleições

O resultado das eleições europeias foram madrastas para alguns e principalmente para os comentaristas do costume.
 
Com a emersão da extrema direita na maioria dos países da UE que demonstrou, de forma infeliz e impensável o descontentamento dos cidadãos europeus com a atual UE e as sua politicas, a realidade é que em Portugal, no 40º aniversário do 25 de Abril, fomos felizmente brindados com uma das mais expressivas vitórias da esquerda e consequente derrota da direita caseira com uma descida tão significativa como esta passar de mais de 50% dos votos para menos de 30%, ou seja uma queda de mais de 20 pontos, com a característica importante de que a esquerda mais combativa para com a troika e as politicas recessivas e de empobrecimento da UE, contabilizar em conjunto mais de 25% dos votos o que constituiu uma subida que também ajuda a colocar, para além do mais, os partidos do chamado arco da governação (da troika) abaixo dos 2/3 dos votos o que lhes tem permitido jogar com as revisões da Constituição a seu bel prazer.
 
Mas o que as eleições também evidenciam é que com a alteração que se registou no comportamento do eleitorado europeu e também português, muito provavelmente tão cedo não irão acontecer mais maiorias absolutas e também por isso a posição de A.J. Seguro, provavelmente, não poderá ser contestada porque os resultados alcançados pelo PS seriam sempre estes e não aqueles que os seus dirigentes gostariam que fossem.
 
Podem, por isso, os comentaristas de serviço continuarem a especular sobre como dividirão o poder PS, PSD e CDS que a abstenção, mas principalmente os votos brancos e nulos e a votação em particular na CDU e em Marinho Pinto não augura um retorno ao velho rotativismo politico e que as votações em quase todos os países europeus confirmam, apesar de aí já ser natural essa dispersão partidária acontecer.
 
Mas também outra evidência que se retira destas eleições é que provavelmente não havendo uma maioria absoluta da direita unida nem mesmo do PS, estando, a pouco mais de um ano das eleições, a coligação de direita a cerca de 20 pontos e o PS a mais de 15 pontos de distância desse resultado, as alternativas terão que ser encontradas à esquerda.
 
Com o PS com uma liderança constantemente posta em causa e que nunca mostrou abertura para poder fazer pontes com a CDU e o BE, parece poder ganhar força e credibilidade uma liderança que consiga fazer pontes de aproximação entre a esquerda toda e não vejo, nesta conjuntura, outra personagem com capacidade para isso senão João Soares que em tempos ajudou a promover a coligação por Lisboa e encarna claramente a ala mais à esquerda do PS.
 
A breve prazo esta não será uma hipótese, mas antes uma necessidade para o país.
 
Talvez assim se pudesse pensar em, verdadeiramente, convergir a esquerda para uma alternativa real de governo e de novas politicas económicas e sociais.
 
Assim todos os preconceitos e desconfianças entre as forças de esquerda possam se ultrapassadas
 
Finalmente estes resultados trazem uma outra evidência. 
 
É que com os números tão baixos alcançados pela coligação de direita, esta, tão cedo, não conseguirá sobreviver em termos de candidatar-se a formar governo, senão em coligação.
 
Só que essa indispensável, nesta altura, coligação, irá a prazo acabar por devorar um dos partidos, naturalmente o mais pequeno, e, por isso, o CDS terá a breve trecho os seus dias contados enquanto partido independente do seu futuro devorador, PSD, com a agravante de, atendendo à sua já escassa expressão eleitoral, nem a habitual tendência para se virar em desespero para o PS, poderá agora, entretanto, ser usada.
 
Parece pois que a derrota da direita poderá ter sido bem mais vasta do que ele própria pretende fazer crer, sendo que, também o PS terá, por muito que isso lhe custe, mais cedo ou mais tarde que assumir, ter perdido a ilusão de poder ser poder sozinho.
 
Assim sendo o caminho para uma alteração profunda da composição do espectro politico em Portugal está em marcha e a possibilidade de uma alternativa consistente à esquerda que altere o rumo do país e que inclua todos, é possível.   
 
Lisboa, 27/05/2014
 
 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

OS PROBLEMAS CAPILARES DO GOVERNO



Machete foi nomeado ministro para tentar superar um chamado défice de credibilidade do governo que adviria, segundo alguns, da falta de mamíferos com alguma idade, se possível já avançada.

A famosa falta de cabelos brancos.

A entrada do homem no grupo de comparsas do 1º ministro superava isso e pelo caminho premiava os bancos sempre solícitos no apoio ao governo e particularmente ao padrinho Coelho, que vinha com afinco implementando as medidas sempre e há muito reclamadas de completa subversão do estado social a que eles mesmo gostam de apelidar de despesista.

O problema é que o homem já com idade avançada, como se pretendia aliás, sofria de mal irreversível.

Na verdade, durante todos estes anos em que esteve mais discreto, ocupado nas suas lides profissionais, desdobrou-se em trabalhos vários e simultâneos num afã de economia caseira que lhe proporcionasse um futuro mais estável e próspero.

Assim dedicou-se a vários bancos onde desempenhava funções esmeradas a troco de alguns, avantajados, euros mas, como era muita a pressão, o trabalho e as influências a traficar, o seu cabelo começou a escassear e ficar ralo.

Ora, naturalmente passados esse tempo de afincado labor a que acresceu a sempre fatigante tarefa de arrecadar com êxito os muitos e variados trabalhos e avenças com o estado, que o seu escritório de advogados sempre e constantemente conseguiu concretizar, o seu escalpe foi diminuindo na mesmíssima proporção do êxito das suas patrióticas tarefas.

E foi assim que passados anos de grandes e relevantes serviços prestados à república, tenha sido no sector bancário ou no aconselhamento jurídico aos sucessivos governos, que o nosso primeiro Dalton se lembrou desse curriculum e resolveu, miraculosamente, chamar a si e para o pé de si este australopiteco que definitivamente lhe iria resolver o tal problema de credibilidade através dos cabelos brancos que emprestaria ao (des)governo de Portugal.

Só que, infelizmente, o homem tinha já passado tanto e tanto trabalhado, que a sua cabeleira já não era a dantes e, escassa que era, tinha-lhe caído na proporção das vantagens que foi tirando ao longo dos anos de farta comezaina à mesa do estado e dos sempre mui nobres e leais bancos portugueses.

E assim, quando o homem foi chamado a desempenhar a sua, talvez, última, relevante e patriótica tarefa, salvar da desgraça e da desonra o governo do seu correligionário e amigo Coelho, o cabelo que seria o seu trunfo e o dos que a si tinham recorrido, já não existia, por ter desandado e, consigo, a credibilidade que já não sendo muita agora era, agora, nula.

Mas Machete, sempre pronto a tudo fazer para não decepcionar ninguém, especialmente os seus amigos e agora companheiros de infortúnio, empenhou-se em demonstrar a sua capacidade de realização e, a torto e a direito, foi fazendo os possíveis para que ficasse claro que sua falta de cabelo não era casual ou irrelevante mas traduzia e mesmíssima falta de credibilidade equivalente.

Foi borrada atrás de borrada.

E assim, por falta de cabelos brancos no governo, que se manteve, conseguiu-se perceber, até nesse particular – a incapacidade e incompetência do Dalton maior.

Consequentemente, há falta de cabelo em especial branco do novel ministro correspondeu a continuação de falta de credibilidade do novel governo.

Coisa que não se resolveu nem parece poder resolver-se.

Problemas capilares, portanto!

Felizmente pensará o 1º Coelho.

 
Citizen-red, 07/10/2013 

       

 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

SOU BENFIQUISTA NÃO SOU JESUÍTA!


 
Não gosto da companhia de Jesus.

Muitos benfiquistas parecem gostar mais do Jesus do que do Benfica.

O homem ansiado por muitos há cerca de quatro anos atrás veio dar ao glorioso, registe-se, uma ambição e implementar uma forma de jogar que todos queríamos, admirámos e usufruímos.

Eram bons tempos.

Parece que foi há tanto tempo, quando o Benfica jogava com alegria, velocidade e fundamentalmente, o que era uma clara inovação naquela época, pelo menos no clube, fazia o que então se chamava, pressão alta.

A pressão era tão alta, bem feita e pouco usual cá no burgo, que o Glorioso ganhava por números expressivos e resolvia a maioria dos jogos facilmente e depressa.

Todos exultávamos e andávamos nas nuvens, tal qual a altura da pressão.

Mas os tempos foram passando e a pressão alta também.

Hoje passados os tais quatro anos, o Glorioso, joga a velocidade mais moderada e tristonha e a pressão mais dá a impressão de ter irremediavelmente baixado tanto como a velocidade e engenho de alguns jogadores, em que Jesus continua a apostar, que com o tempo mais parecem Porto, mas Vintage, estraga-se rapidamente quando aberto.

O homem, que todos admirámos, hoje não consegue manter o nível de exibições constante, imprevisível e temida pelos adversários, mesmo os do nosso empobrecido campeonato e dá claros sinais de que o tempo dele já passou, como ultrapassada está a sua retórica primária, confusa e tristemente demagógica.

Estes sinais aliás estavam há muitos escritos nas estrelas e os dois últimos anos provaram que por um motivo ou outro a esperança que por vezes parecia renascer foi sempre traída pela crua realidade dos finais de campeonatos.

Perdemos sempre para os “andrades”, não só os campeonatos, mas, pelo caminho, também quase todos os jogos directos, o que, num campeonato fraquinho como o luso, é mais do que meio caminho andado para a desgraça.

Desgraça do Benfica que perdeu os títulos, que tanta falta fazem no nosso espectacular museu e desgraça dos benfiquistas, que à falta de alegria das vitórias ainda têm que aturar os “andrades” e “lagartos” desta vida.

O homem não serve e está definitivamente ultrapassado, em fim de ciclo e esgotado tática e emocionalmente.

Já não consegue surpreender os adversários, galvanizar os sócios, seduzir os jogadores, nem finalmente e apesar da boa imprensa que lhe proporcionaram, arregimentar comentadores.

Se dúvidas houvesse o penoso final de época passada, com derrotas por demérito próprio, cobardia tática e incapacidade anímica, a que só a final da liga europa consegue escapar, foi o último e definitivo sinal de que o tempo de Jesus tinha acabado, o ciclo, embora tardiamente teria que ser encerrado e o glorioso a necessitar urgentemente de reinventar uma nova esperança em vitórias e exibições à Benfica, mudando de treinador.

Era a mais ponderosa, prudente, evidente e urgente medida de gestão desportiva/futebolística, que se exigia.

Se a isto acrescentarmos a necessidade de galvanizar o universo clubista para aderir sem hesitações à enorme, muito saudada, mas também arriscada gloriosa empresa, que foi o libertar-nos das grilhetas da olivedesportos, criando a nossa TVBenfica, orgulho de todos nós, mais se tornava urgente tomar a medida que apesar de tardia era no fim da época passada a única esperança que nos restava para inverter o rumo de conformismo que se apoderou dos dirigentes e que se arriscava apoderar-se de todo o universo benfiquista. Veja-se as fracas assistências aos jogos comparadas com as normalmente usuais.

Ora, passou-se tudo ao contrário e quando não havia motivo algum para continuar com um treinador, que em quatro anos ganhou 1 campeonato, perdendo no mesmo período 3 campeonatos e 4 taças de Portugal, não contando com uma eliminação nas meias-finais da Liga Europa com o Braga e a derrota na final da época passada, aliás a única sem mágoa, terminando este ano a sua relação contratual, o presidente não só renovou por dois anos, com um contrato milionário mesmo ao nível europeu, como acrescenta, ao que consta e não desmentido, um prémio chorudo se ganhar o campeonato ou uma competição europeia.

Desacreditado perante tudo e todos e enxovalhado por um jogador na final da Taça de Portugal, Jesus foi salvo e até premiado pelo seu maior admirador de sempre e com quem tem uma ligação demasiado estreita e próxima atendendo às funções que, enquanto presidente desempenha e que aconselhariam alguma parcimónia, bom senso e até distanciamento. Vai-se lá saber porquê.

 Mas o problema é que alguns, provavelmente mais do que seria aconselhável, outros sócios, contra toda a lógica e razoabilidade defendem Jesus, como se gostassem mais dele do que do Benfica.

Não vislumbrando ou parecendo não querer vislumbrar que nesta altura e cada vez mais são maiores os danos que o treinador causa ao clube que as vantagens que lhe oferece e reconheço serem algumas mas infelizmente não muitas.

É uma fé messiânica no homem, uma atração para o irracional e uma ausência de espirito crítico que mais parece estarmos perante tempos tão idos e distantes, como aqueles em que os homens eram levados a acreditar e depositar os seus destinos nas mãos de quem melhor lhes vendia ilusões.

Eu sou benfiquista e recuso-me e não compreendo, quem, mais do que se deixar levar por fé, demagogia ou falsas ilusões e fatalismos – sem o homem não conseguiríamos nunca ganhar nada a ninguém, como se antes dele, nada de desportivamente importante tivesse sido alcançado no clube -, permite-se preferir ao clube e à sua glória, um homem, sem competência visível e cuja maior virtude, neste momento, é mascar pastilha elástica e dar palmadas nas nádegas de quem o traiu.

O que mais pode prejudicar o clube nesta altura é a cegueira de alguns, a, infelizmente, visão oportunista de outros e a complacência de quase todos.

Aquilo que se impunha e continua a impor fazer, não é alimentar uma ilusão ou aceitar um destino armadilhado, porque cada vez mais evidentemente irrealizável com este desorientado e ultrapassado treinador.

Só que quem manda no clube e aqueles que são o seus acriticamente seguidores claramente assim não pensam.

Na verdade e estranhamente, esses não passam sem a companhia de Jesus.

Eu, no entanto, não gosto da companhia de Jesus.

Eu sou Benfiquista não sou Jesuíta!
 
Lisboa, 25/09/2013