Machete foi nomeado ministro para tentar superar um
chamado défice de credibilidade do governo que adviria, segundo alguns, da
falta de mamíferos com alguma idade, se possível já avançada.
A famosa falta de cabelos brancos.
A entrada do homem no grupo de comparsas do 1º ministro
superava isso e pelo caminho premiava os bancos sempre solícitos no apoio ao
governo e particularmente ao padrinho Coelho, que vinha com afinco
implementando as medidas sempre e há muito reclamadas de completa subversão do
estado social a que eles mesmo gostam de apelidar de despesista.
O problema é que o homem já com idade avançada, como se
pretendia aliás, sofria de mal irreversível.
Na verdade, durante todos estes anos em que esteve mais
discreto, ocupado nas suas lides profissionais, desdobrou-se em trabalhos
vários e simultâneos num afã de economia caseira que lhe proporcionasse um
futuro mais estável e próspero.
Assim dedicou-se a vários bancos onde desempenhava
funções esmeradas a troco de alguns, avantajados, euros mas, como era muita a
pressão, o trabalho e as influências a traficar, o seu cabelo começou a
escassear e ficar ralo.
Ora, naturalmente passados esse tempo de afincado labor a
que acresceu a sempre fatigante tarefa de arrecadar com êxito os muitos e
variados trabalhos e avenças com o estado, que o seu escritório de advogados
sempre e constantemente conseguiu concretizar, o seu escalpe foi diminuindo na mesmíssima
proporção do êxito das suas patrióticas tarefas.
E foi assim que passados anos de grandes e relevantes
serviços prestados à república, tenha sido no sector bancário ou no
aconselhamento jurídico aos sucessivos governos, que o nosso primeiro Dalton se
lembrou desse curriculum e resolveu, miraculosamente, chamar a si e para o pé
de si este australopiteco que definitivamente lhe iria resolver o tal problema
de credibilidade através dos cabelos brancos que emprestaria ao (des)governo de
Portugal.
Só que, infelizmente, o homem tinha já passado tanto e
tanto trabalhado, que a sua cabeleira já não era a dantes e, escassa que era,
tinha-lhe caído na proporção das vantagens que foi tirando ao longo dos anos de
farta comezaina à mesa do estado e dos sempre mui nobres e leais bancos
portugueses.
E assim, quando o homem foi chamado a desempenhar a sua,
talvez, última, relevante e patriótica tarefa, salvar da desgraça e da desonra
o governo do seu correligionário e amigo Coelho, o cabelo que seria o seu
trunfo e o dos que a si tinham recorrido, já não existia, por ter desandado e,
consigo, a credibilidade que já não sendo muita agora era, agora, nula.
Mas Machete, sempre pronto a tudo fazer para não decepcionar
ninguém, especialmente os seus amigos e agora companheiros de infortúnio,
empenhou-se em demonstrar a sua capacidade de realização e, a torto e a direito,
foi fazendo os possíveis para que ficasse claro que sua falta de cabelo não era
casual ou irrelevante mas traduzia e mesmíssima falta de credibilidade
equivalente.
Foi borrada atrás de borrada.
E assim, por falta de cabelos brancos no governo, que se
manteve, conseguiu-se perceber, até nesse particular – a incapacidade e
incompetência do Dalton maior.
Consequentemente, há falta de cabelo em especial branco do novel ministro
correspondeu a continuação de falta de credibilidade do novel governo.
Coisa que não se resolveu nem parece poder resolver-se.
Problemas capilares, portanto!
Felizmente pensará o 1º Coelho.