segunda-feira, 7 de outubro de 2013

OS PROBLEMAS CAPILARES DO GOVERNO



Machete foi nomeado ministro para tentar superar um chamado défice de credibilidade do governo que adviria, segundo alguns, da falta de mamíferos com alguma idade, se possível já avançada.

A famosa falta de cabelos brancos.

A entrada do homem no grupo de comparsas do 1º ministro superava isso e pelo caminho premiava os bancos sempre solícitos no apoio ao governo e particularmente ao padrinho Coelho, que vinha com afinco implementando as medidas sempre e há muito reclamadas de completa subversão do estado social a que eles mesmo gostam de apelidar de despesista.

O problema é que o homem já com idade avançada, como se pretendia aliás, sofria de mal irreversível.

Na verdade, durante todos estes anos em que esteve mais discreto, ocupado nas suas lides profissionais, desdobrou-se em trabalhos vários e simultâneos num afã de economia caseira que lhe proporcionasse um futuro mais estável e próspero.

Assim dedicou-se a vários bancos onde desempenhava funções esmeradas a troco de alguns, avantajados, euros mas, como era muita a pressão, o trabalho e as influências a traficar, o seu cabelo começou a escassear e ficar ralo.

Ora, naturalmente passados esse tempo de afincado labor a que acresceu a sempre fatigante tarefa de arrecadar com êxito os muitos e variados trabalhos e avenças com o estado, que o seu escritório de advogados sempre e constantemente conseguiu concretizar, o seu escalpe foi diminuindo na mesmíssima proporção do êxito das suas patrióticas tarefas.

E foi assim que passados anos de grandes e relevantes serviços prestados à república, tenha sido no sector bancário ou no aconselhamento jurídico aos sucessivos governos, que o nosso primeiro Dalton se lembrou desse curriculum e resolveu, miraculosamente, chamar a si e para o pé de si este australopiteco que definitivamente lhe iria resolver o tal problema de credibilidade através dos cabelos brancos que emprestaria ao (des)governo de Portugal.

Só que, infelizmente, o homem tinha já passado tanto e tanto trabalhado, que a sua cabeleira já não era a dantes e, escassa que era, tinha-lhe caído na proporção das vantagens que foi tirando ao longo dos anos de farta comezaina à mesa do estado e dos sempre mui nobres e leais bancos portugueses.

E assim, quando o homem foi chamado a desempenhar a sua, talvez, última, relevante e patriótica tarefa, salvar da desgraça e da desonra o governo do seu correligionário e amigo Coelho, o cabelo que seria o seu trunfo e o dos que a si tinham recorrido, já não existia, por ter desandado e, consigo, a credibilidade que já não sendo muita agora era, agora, nula.

Mas Machete, sempre pronto a tudo fazer para não decepcionar ninguém, especialmente os seus amigos e agora companheiros de infortúnio, empenhou-se em demonstrar a sua capacidade de realização e, a torto e a direito, foi fazendo os possíveis para que ficasse claro que sua falta de cabelo não era casual ou irrelevante mas traduzia e mesmíssima falta de credibilidade equivalente.

Foi borrada atrás de borrada.

E assim, por falta de cabelos brancos no governo, que se manteve, conseguiu-se perceber, até nesse particular – a incapacidade e incompetência do Dalton maior.

Consequentemente, há falta de cabelo em especial branco do novel ministro correspondeu a continuação de falta de credibilidade do novel governo.

Coisa que não se resolveu nem parece poder resolver-se.

Problemas capilares, portanto!

Felizmente pensará o 1º Coelho.

 
Citizen-red, 07/10/2013 

       

 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

SOU BENFIQUISTA NÃO SOU JESUÍTA!


 
Não gosto da companhia de Jesus.

Muitos benfiquistas parecem gostar mais do Jesus do que do Benfica.

O homem ansiado por muitos há cerca de quatro anos atrás veio dar ao glorioso, registe-se, uma ambição e implementar uma forma de jogar que todos queríamos, admirámos e usufruímos.

Eram bons tempos.

Parece que foi há tanto tempo, quando o Benfica jogava com alegria, velocidade e fundamentalmente, o que era uma clara inovação naquela época, pelo menos no clube, fazia o que então se chamava, pressão alta.

A pressão era tão alta, bem feita e pouco usual cá no burgo, que o Glorioso ganhava por números expressivos e resolvia a maioria dos jogos facilmente e depressa.

Todos exultávamos e andávamos nas nuvens, tal qual a altura da pressão.

Mas os tempos foram passando e a pressão alta também.

Hoje passados os tais quatro anos, o Glorioso, joga a velocidade mais moderada e tristonha e a pressão mais dá a impressão de ter irremediavelmente baixado tanto como a velocidade e engenho de alguns jogadores, em que Jesus continua a apostar, que com o tempo mais parecem Porto, mas Vintage, estraga-se rapidamente quando aberto.

O homem, que todos admirámos, hoje não consegue manter o nível de exibições constante, imprevisível e temida pelos adversários, mesmo os do nosso empobrecido campeonato e dá claros sinais de que o tempo dele já passou, como ultrapassada está a sua retórica primária, confusa e tristemente demagógica.

Estes sinais aliás estavam há muitos escritos nas estrelas e os dois últimos anos provaram que por um motivo ou outro a esperança que por vezes parecia renascer foi sempre traída pela crua realidade dos finais de campeonatos.

Perdemos sempre para os “andrades”, não só os campeonatos, mas, pelo caminho, também quase todos os jogos directos, o que, num campeonato fraquinho como o luso, é mais do que meio caminho andado para a desgraça.

Desgraça do Benfica que perdeu os títulos, que tanta falta fazem no nosso espectacular museu e desgraça dos benfiquistas, que à falta de alegria das vitórias ainda têm que aturar os “andrades” e “lagartos” desta vida.

O homem não serve e está definitivamente ultrapassado, em fim de ciclo e esgotado tática e emocionalmente.

Já não consegue surpreender os adversários, galvanizar os sócios, seduzir os jogadores, nem finalmente e apesar da boa imprensa que lhe proporcionaram, arregimentar comentadores.

Se dúvidas houvesse o penoso final de época passada, com derrotas por demérito próprio, cobardia tática e incapacidade anímica, a que só a final da liga europa consegue escapar, foi o último e definitivo sinal de que o tempo de Jesus tinha acabado, o ciclo, embora tardiamente teria que ser encerrado e o glorioso a necessitar urgentemente de reinventar uma nova esperança em vitórias e exibições à Benfica, mudando de treinador.

Era a mais ponderosa, prudente, evidente e urgente medida de gestão desportiva/futebolística, que se exigia.

Se a isto acrescentarmos a necessidade de galvanizar o universo clubista para aderir sem hesitações à enorme, muito saudada, mas também arriscada gloriosa empresa, que foi o libertar-nos das grilhetas da olivedesportos, criando a nossa TVBenfica, orgulho de todos nós, mais se tornava urgente tomar a medida que apesar de tardia era no fim da época passada a única esperança que nos restava para inverter o rumo de conformismo que se apoderou dos dirigentes e que se arriscava apoderar-se de todo o universo benfiquista. Veja-se as fracas assistências aos jogos comparadas com as normalmente usuais.

Ora, passou-se tudo ao contrário e quando não havia motivo algum para continuar com um treinador, que em quatro anos ganhou 1 campeonato, perdendo no mesmo período 3 campeonatos e 4 taças de Portugal, não contando com uma eliminação nas meias-finais da Liga Europa com o Braga e a derrota na final da época passada, aliás a única sem mágoa, terminando este ano a sua relação contratual, o presidente não só renovou por dois anos, com um contrato milionário mesmo ao nível europeu, como acrescenta, ao que consta e não desmentido, um prémio chorudo se ganhar o campeonato ou uma competição europeia.

Desacreditado perante tudo e todos e enxovalhado por um jogador na final da Taça de Portugal, Jesus foi salvo e até premiado pelo seu maior admirador de sempre e com quem tem uma ligação demasiado estreita e próxima atendendo às funções que, enquanto presidente desempenha e que aconselhariam alguma parcimónia, bom senso e até distanciamento. Vai-se lá saber porquê.

 Mas o problema é que alguns, provavelmente mais do que seria aconselhável, outros sócios, contra toda a lógica e razoabilidade defendem Jesus, como se gostassem mais dele do que do Benfica.

Não vislumbrando ou parecendo não querer vislumbrar que nesta altura e cada vez mais são maiores os danos que o treinador causa ao clube que as vantagens que lhe oferece e reconheço serem algumas mas infelizmente não muitas.

É uma fé messiânica no homem, uma atração para o irracional e uma ausência de espirito crítico que mais parece estarmos perante tempos tão idos e distantes, como aqueles em que os homens eram levados a acreditar e depositar os seus destinos nas mãos de quem melhor lhes vendia ilusões.

Eu sou benfiquista e recuso-me e não compreendo, quem, mais do que se deixar levar por fé, demagogia ou falsas ilusões e fatalismos – sem o homem não conseguiríamos nunca ganhar nada a ninguém, como se antes dele, nada de desportivamente importante tivesse sido alcançado no clube -, permite-se preferir ao clube e à sua glória, um homem, sem competência visível e cuja maior virtude, neste momento, é mascar pastilha elástica e dar palmadas nas nádegas de quem o traiu.

O que mais pode prejudicar o clube nesta altura é a cegueira de alguns, a, infelizmente, visão oportunista de outros e a complacência de quase todos.

Aquilo que se impunha e continua a impor fazer, não é alimentar uma ilusão ou aceitar um destino armadilhado, porque cada vez mais evidentemente irrealizável com este desorientado e ultrapassado treinador.

Só que quem manda no clube e aqueles que são o seus acriticamente seguidores claramente assim não pensam.

Na verdade e estranhamente, esses não passam sem a companhia de Jesus.

Eu, no entanto, não gosto da companhia de Jesus.

Eu sou Benfiquista não sou Jesuíta!
 
Lisboa, 25/09/2013

        

 

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O desespero dos novos órfãos da crise




A crise longa, e que por força dos últimos governos mais longa se vem tornando, produziu muitos desesperados.
Foram os desesperados que resultaram dos inicialmente indignados.
Gente sem trabalho que depois passou a ser gente sem subsídio de desemprego.
Milhares todos os dias e que serão mais.
Famílias completas.
Jovens sem nunca terem experimentado, sequer, o mercado de trabalho, ou muitas vezes sem nunca terem trabalhado nas áreas das suas competências e em que as famílias investiram anos e economias.
Outros que se viram obrigados a emigrar, não por opção o que seria o desejável, mas por não terem outra maneira de se emanciparem ou simplesmente porque senão entravam em desespero.
Outros ainda que dum momento para o outro passaram, sem perceber como e porquê, a ser ricos e como tal desapropriaram-nos de parte dos seus legítimos rendimentos do trabalho ou de reforma.
Outros mesmo que deixaram de ter dinheiro para sobreviver e vivem à custa da caridade, coisa que pensávamos já ter desaparecido do quotidiano normal das famílias portuguesas.
Destes e são quase todos ou pelo menos a grande maioria dos cidadãos, depende a resposta que a crise necessita que seja dada.
Mas há uma grande parte deles que são também desesperados, não da crise social que atravessamos mas em resultado da situação politica que dela emergiu.
São um outro tipo de desesperados, mas em grande parte, são os mesmos e que por isso sofrem dum desespero duplo.
Votaram nos partidos do chamado arco da governação, que não do triunfo, e como tudo lhes saiu ao contrário do que imaginavam, uns, e outros sonharam, hoje sentem-se desesperados.
Os meus amigos do CDS ainda vá que não vá que como têm andado sempre com um pé fora do governo e dois lá dentro, ainda conseguem, a custo, mas conseguem, encontrar no videirinho que os comanda uma luz que lhes desculpa a má consciência de repetir o voto.
Já os meus amigos votantes no PS andam doidos entre o Seguro e o Sócrates, via António Costa, e as suas carícias oposicionistas ao governo.
Os que entregaram o seu destino nas mãos do PSD/Coelho, então esses, estão completamente desesperados porque não sabem o que hão-de fazer com o seu lindo voto, quando o homem que comanda os seus destinos é o mesmo que lhes rouba o destino que ambicionavam.
Todos estão desesperados porque lhes estão a ir ao bolso, da frente, de trás, do casaco, das calças, enfim, todo e qualquer bolso que tenham, e até que não tenham.
Mas o desespero é maior e duplo, porque não sabem em quem votar.
Não tendo coragem para mudarem o sentido tradicional do seu voto, seja por preconceito ou enraizamento sociológico, a verdade é que desesperam porque não conseguem dar um sentido útil e coerente ao seu desespero social e económico, pois, por muito que lhes custe admitir, estão a ir-lhes ao bolso de forma a afectar-lhes profundamente o seu nível habitual de vida.
Principalmente quando, ainda por cima, os arautos da sua desgraça, mostram desprezo pelas consequências das suas decisões e falta de escrúpulos na forma como as concretizam. 
Que fazer então quando sentem não ter nada nem ninguém a quem se agarrar politicamente.
Um vazio profundo e desesperante por não saberem o que fazer quando forem chamados a pronunciarem-se sobre o destino a darem ao seu desespero.
Sentem-se desesperadamente órfãos.
São, na verdade, os novos órfãos da política.

citizen red, 02/02/2013