Não gosto da companhia de
Jesus.
Muitos benfiquistas parecem
gostar mais do Jesus do que do Benfica.
O homem ansiado por muitos
há cerca de quatro anos atrás veio dar ao glorioso, registe-se, uma ambição e
implementar uma forma de jogar que todos queríamos, admirámos e usufruímos.
Eram bons tempos.
Parece que foi há tanto
tempo, quando o Benfica jogava com alegria, velocidade e fundamentalmente, o
que era uma clara inovação naquela época, pelo menos no clube, fazia o que
então se chamava, pressão alta.
A pressão era tão alta, bem
feita e pouco usual cá no burgo, que o Glorioso ganhava por números expressivos
e resolvia a maioria dos jogos facilmente e depressa.
Todos exultávamos e
andávamos nas nuvens, tal qual a altura da pressão.
Mas os tempos foram passando
e a pressão alta também.
Hoje passados os tais quatro
anos, o Glorioso, joga a velocidade mais moderada e tristonha e a pressão mais
dá a impressão de ter irremediavelmente baixado tanto como a velocidade e
engenho de alguns jogadores, em que Jesus continua a apostar, que com o tempo mais
parecem Porto, mas Vintage, estraga-se rapidamente quando aberto.
O homem, que todos admirámos,
hoje não consegue manter o nível de exibições constante, imprevisível e temida
pelos adversários, mesmo os do nosso empobrecido campeonato e dá claros sinais
de que o tempo dele já passou, como ultrapassada está a sua retórica primária,
confusa e tristemente demagógica.
Estes sinais aliás estavam
há muitos escritos nas estrelas e os dois últimos anos provaram que por um
motivo ou outro a esperança que por vezes parecia renascer foi sempre traída
pela crua realidade dos finais de campeonatos.
Perdemos
sempre para os “andrades”, não só os campeonatos, mas, pelo caminho, também quase
todos os jogos directos, o que, num campeonato fraquinho como o luso, é mais do
que meio caminho andado para a desgraça.
Desgraça
do Benfica que perdeu os títulos, que tanta falta fazem no nosso espectacular
museu e desgraça dos benfiquistas, que à falta de alegria das vitórias ainda
têm que aturar os “andrades” e “lagartos” desta vida.
O homem não serve e está
definitivamente ultrapassado, em fim de ciclo e esgotado tática e emocionalmente.
Já não consegue surpreender
os adversários, galvanizar os sócios, seduzir os jogadores, nem finalmente e
apesar da boa imprensa que lhe proporcionaram, arregimentar comentadores.
Se dúvidas houvesse o penoso
final de época passada, com derrotas por demérito próprio, cobardia tática e
incapacidade anímica, a que só a final da liga europa consegue escapar, foi o
último e definitivo sinal de que o tempo de Jesus tinha acabado, o ciclo,
embora tardiamente teria que ser encerrado e o glorioso a necessitar
urgentemente de reinventar uma nova esperança em vitórias e exibições à Benfica,
mudando de treinador.
Era a mais ponderosa,
prudente, evidente e urgente medida de gestão desportiva/futebolística, que se
exigia.
Se a isto acrescentarmos a
necessidade de galvanizar o universo clubista para aderir sem hesitações à
enorme, muito saudada, mas também arriscada gloriosa empresa, que foi o libertar-nos
das grilhetas da olivedesportos, criando a nossa TVBenfica, orgulho de todos
nós, mais se tornava urgente tomar a medida que apesar de tardia era no fim da
época passada a única esperança que nos restava para inverter o rumo de
conformismo que se apoderou dos dirigentes e que se arriscava apoderar-se de
todo o universo benfiquista. Veja-se as fracas assistências aos jogos
comparadas com as normalmente usuais.
Ora, passou-se tudo ao
contrário e quando não havia motivo algum para continuar com um treinador, que
em quatro anos ganhou 1 campeonato, perdendo no mesmo período 3 campeonatos e 4
taças de Portugal, não contando com uma eliminação nas meias-finais da Liga Europa
com o Braga e a derrota na final da época passada, aliás a única sem mágoa,
terminando este ano a sua relação contratual, o presidente não só renovou por
dois anos, com um contrato milionário mesmo ao nível europeu, como acrescenta,
ao que consta e não desmentido, um prémio chorudo se ganhar o campeonato ou uma
competição europeia.
Desacreditado perante tudo e
todos e enxovalhado por um jogador na final da Taça de Portugal, Jesus foi
salvo e até premiado pelo seu maior admirador de sempre e com quem tem uma
ligação demasiado estreita e próxima atendendo às funções que, enquanto
presidente desempenha e que aconselhariam alguma parcimónia, bom senso e até
distanciamento. Vai-se lá saber porquê.
Mas o problema é que alguns, provavelmente
mais do que seria aconselhável, outros sócios, contra toda a lógica e
razoabilidade defendem Jesus, como se gostassem mais dele do que do Benfica.
Não vislumbrando ou
parecendo não querer vislumbrar que nesta altura e cada vez mais são maiores os
danos que o treinador causa ao clube que as vantagens que lhe oferece e
reconheço serem algumas mas infelizmente não muitas.
É uma fé messiânica no
homem, uma atração para o irracional e uma ausência de espirito crítico que
mais parece estarmos perante tempos tão idos e distantes, como aqueles em que
os homens eram levados a acreditar e depositar os seus destinos nas mãos de
quem melhor lhes vendia ilusões.
Eu sou benfiquista e
recuso-me e não compreendo, quem, mais do que se deixar levar por fé, demagogia
ou falsas ilusões e fatalismos – sem o homem não conseguiríamos nunca ganhar
nada a ninguém, como se antes dele, nada de desportivamente importante tivesse
sido alcançado no clube -, permite-se preferir ao clube e à sua glória, um
homem, sem competência visível e cuja maior virtude, neste momento, é mascar
pastilha elástica e dar palmadas nas nádegas de quem o traiu.
O que mais pode prejudicar o
clube nesta altura é a cegueira de alguns, a, infelizmente, visão oportunista
de outros e a complacência de quase todos.
Aquilo que se impunha e
continua a impor fazer, não é alimentar uma ilusão ou aceitar um destino
armadilhado, porque cada vez mais evidentemente irrealizável com este
desorientado e ultrapassado treinador.
Só que quem manda no clube e
aqueles que são o seus acriticamente seguidores claramente assim não pensam.
Na verdade e estranhamente,
esses não passam sem a companhia de Jesus.
Eu, no entanto, não gosto da
companhia de Jesus.
Eu sou Benfiquista não sou
Jesuíta!
Lisboa, 25/09/2013