Nestas eleições, aquilo que parece ser, apesar de tudo, mais
certo dentro da incerteza da situação é que não haverá maiorias absolutas.
Esse objetivo permanente e máximo do centrão, nos últimos tempos
acolitado pelo ex. partido do táxi, que foi entretanto rebatizado por arco da
governação, já não convence ninguém, nem ninguém, incluindo o seu mais recente
defensor, Cavaco Silva, acredita que venha a ser alcançado.
Neste provável quadro político e com a direita esgotada na
capacidade de união de votos e consequentemente, mandatos – talvez pudesse
acrescentar os provavelmente escassos oriundos do CM, perdão, de Marinho Pinto –,
somente a esquerda parlamentar, poderá, em tese, alcançar uma situação de
maioria pós eleitoral.
Mas como as sondagens indiciam, e elas valem o que valem mas
sempre valem alguma coisa, somente os votos e mandatos do PS e PS juntos poderão
eventualmente constituir essa maioria politica. Acrescente-se ou não os mandatos do BE.
Ora, sendo muitas e profundas, à partida, as divergências
programáticas entre esses partidos e tendo que haver cedências de parte a
parte, é minha opinião que duas circunstâncias irão condicionar essa já de si difícil
possibilidade.
Em primeiro lugar o interesse de cada um dos partidos em que
esse entendimento global se faça e que permita uma solução governativa estável,
ou seja para uma legislatura.
Em segundo lugar a correlação de forças que entre eles se
possa vir a existir e que possa moldar e justifique o tipo e grau de cedências
de ambas as parte.
Isto não contando com as inultrapassáveis linhas vermelhas que
cada um colocará em cima da mesa.
Havendo ou não uma vitória com maioria relativa do PS ou da
própria coligação de direita a verdade é que se a direita governar isso só
seria possível com os votos favoráveis ou a abstenção do PS.
Como as afirmações de A Costa foram claras em estabelecer que
somente com a invasão marciana, que não é expectável, poderia coligar-se com a
direita, parece ser do seu maior interesse encontrar uma forma que lhe permitisse
ser governo neste outono. Ou então será a sua completa descredibilização
pessoal e politica.
Por outro lado o PC não estaria interessado em dar uma mão ao
PS para este governar em rédea solta, traindo o que desde sempre afirmou e
traindo também o seu fiel e difícil eleitorado, pelo que só um entendimento firme
e claro o poderia fazer mudar de paradigma politico.
Por outro lado ainda, a tentação dum governo minoritário do
PS que, não tenho dúvidas, iria ser bem visto pela direita, só iria conduzir o
PS ao desaparecimento a termo certo e, por isso mesmo, não teria dificuldade em
ser, por ela, aceite, não constituirá, assim, alternativa credível, a não ser
que o PS continue na senda da alegre autodestruição dos últimos e desastrados tempos.
Aqui chegados e não podendo serem convocadas eleições nos
tempos mais próximos, o que a direita preferiria, um entendimento à esquerda e
que obrigatoriamente incluiria o PC será para o PS o desejável, mesmo que não
desejado.
Estará no entanto o PC interessado num entendimento político
que possa conduzir a um governo maioritário, quando estará em crescendo e o PS ficaria
entalado entre ele e uma direita a recuperar e, a prazo, vir o PS a pagar caro
por isso?
Não sei e provavelmente ninguém, nem mesmo no PC, saberá,
dependendo da já citada e futura correlação de forças que sair das eleições.
Um PC fraco mas ainda assim necessário para fazer maioria,
levaria o PS a fazer exigências inaceitáveis para o PC, mas um PC com alguma
força eleitoral, o que até se perfila no horizonte, poderia permitir ao PS ser
mais maleável e chegarem a um extraordinário entendimento politico. Um
entendimento difícil, mas que alcançado seria respeitado.
A verdade é que estes caminhos são difíceis, mas a historia
mostra que o PC já votou em Soares e já se coligou na CML, naquela que foi a
melhor gestão autárquica da capital.
Muitas e fortes oposições internas, tanto no PS como no PC,
poderão surgir.
Curiosamente mais fáceis de contornar no PC do que no PS que
anda a trilhar os caminhos da autoflagelação.
Mas ainda assim esta é uma possibilidade que já ninguém, a
começar pelos meios de comunicação social, afastam do horizonte político.
E são vários os indícios dessa possibilidade, goste-se ou não
dela.
No PC, onde as dúvidas e dificuldades poderiam ser maiores, as
últimas declarações de Jerónimo, a tranquilidade com que as produziu na TVI, nomeadamente afirmando estar o PC pronto a ir para o governo, as
sondagens conhecidas e até declarações de outros dirigentes como António Filipe,
permitem especular que um dos caminhos que poderá ajudar a uma aproximação
seria a existência dum candidato comum ou pelo menos o apoio comum a Sampaio da
Nóvoa.
Já no PS as declarações de Costa sempre comportaram uma
retórica mais à esquerda do que o habitual e não seria completamente
surpreendente se desse passos nesse sentido.
Aliás tal possibilidade é muito real, tendo em conta que o PS
acabará por apoiar o ex reitor da UL e o PC já afirmou que contribuirá para uma
vitória dum candidato desse tipo.
Veremos, mas provavelmente a situação eleitoral, se não mudar
muito e haja uma vitória do PS ou da coligação de direita ainda que sem maioria
absoluta, acabará por empurrar Costa para a necessidade de entendimentos à
esquerda e, ao PC, se este tiver um crescimento razoável, para a necessidade de
se afirmar como partido de poder, assim sejam salvaguardadas questões para si
fundamentais.
A direita teme mais do que se imagina essa possibilidade,
porque não só faria cair por terra a esperança de ter eleições a curto prazo e
aproveitar um eventual e possível descalabro do PS, mas porque veria o caminho
da sua ofensiva ideológica chegar ao fim.
Muitos portugueses que antes não estariam preparados para uma
experiência política deste tipo, parecem hoje sociologicamente mais disponíveis.
Será possível? não sei, mas quem está mais entalado neste
momento e nos próximos meses, parece ser o PS.
Citizen Red